emoções dentro de mim dão conta da minha conduta, um dia me sinto demasiado nova, outro demasiado velha, e lá se vai meu equilíbrio minha harmonia, aqui delinearei parte de mim passado sem pretensão e escreverei estados de espírito no presente...
emoções dentro de mim dão conta da minha conduta, um dia me sinto demasiado nova, outro demasiado velha, e lá se vai meu equilíbrio minha harmonia, aqui delinearei parte de mim passado sem pretensão e escreverei estados de espírito no presente...
partiu, não a pôde amarrar, mirou-me, mirou-me e disse-me que a sorte havia de virar, levou-me a vida para longe com o silêncio envolvendo-me os sentidos, prometendo-me o mundo, quando ainda era uma menina de vestido branco de palmo e meio, com sargaços nos olhos e baloiços no pensamento, pássaro insaciado de brincadeira de asas finas e inquietas e, faltando-lhe tudo o demais, o aconchego do colo da mãe, a manta dos quadradinhos, os pássaros na janela, e os lírios deixados em tristeza...tudo me escapou na pressa desse dia, tudo rompeu num choro, até a folhagem da mimoseira desatou em lágrimas, dentro de mim um rumor de sino continuava a bater com medo de parar....
tão quase tudo... a verdade é a poeira sem assentar a fazer-se ninho nos meus olhos e o meu universo toldado, vem até mim um pássaro que ri, inventa e chora, e em cumplicidade sentamo-nos no alpendre conversamos sobre flores, falamos de primaveras e de vôos de outono, de chegadas e despedidas, olhamos os riozinhos de sol que correm no meu rosto onde as rosas já não crescem, um pavão de asas abertas me confronta o coração...há muito que não me faço perguntas, repouso das interrogações da vida, das esperanças defraldadas, das borboletas cegas que sobre os sonhos voejam, repouso da saudade de granito, e assim vou dizendo adeus sem me doer...
pela friura da vidraça olho vagamente o céu de azul, leve... bordado a branco, como quem desperta dum sonho, é manhã, entre a realidade e a memória consumida ouço o palpitar do mundo nas papoilas que gritam feridas pelos ventos agressivos, pressinto no vai vem dos pássaros que flutuam na minha retina a querer ocultar-se , que o instante não é uma dávida de amor, e o mundo fica trémulo num vôo retido...à espera que passe a hostilidade entre os homens, enquanto os meus dedos febris procuram a pomba branca e um raminho de oliveira repetindo palavras na solidão da hora...
talvez me mortifique no vazio da espera, o sol hoje trouxe emoção a pequenas coisas, tocou o meu coração e eu toquei o horizonte azul dos sonhos, aos olhos voltaram pássaros de ternura, na mente o sussurro enfeitiçado da felicidade e nas mãos molhos de trevos avermelhados colhidos na aridez da alma onde brota sempre uma esperança...
observo os últimos raios de luz, estou vazia...a noite como um lago tranquilo, tremem as estrelas, a lua recita versos de qualquer saudade e a brisa da infância que sempre me espera adoça o vazio que há em mim, não sei se vou acordar, escolho ficar no sonho numa fantasia que me incendeia, deixo-me ir nesta utopia que me protege da sentença dos anos, calada a minha pena nos olhos se apaga, evoco memórias, mato a sede, perco-me no sonho como uma nau se perde na bruma, desço a noite imensa e deixo para trás os meus fantasmas interiores, sinto a outra que também sou e a tristeza por tê-la abandonado...
e depois cada vez mais depressa a vida a despedir-se, e tudo se distancia,
fica o sonho escondido e guardado para sempre atrás da porta num quarto onde se viveu com um fulgor mais belo que a própria vida ...quem sabe pela primeira vez o amor...
o passado dorme enquanto o futuro murmura e o presente vive e chora por dentro, e eu me exilo e vou-me apagando a mim mesmo, desvaneço nas palavras que convoco e os pensamentos abrem-se ao vazio, aceitando o inevitável...como a areia que o mar engole, assim o tempo amargo faz nascer em mim a desmemória, conspira em segredo e é como uma sombra que me persegue, deixando-me sem flores nos olhos e sem o sorriso nos lábios onde as sílabas íam nascendo, agora andam gaivotas embrumadas em delírio sobre o meu corpo numa liberdade de espuma...